Este artigo faz parte de uma série especial sobre cooperação/associativismo de farmácias no Brasil. A sequência se completa com os textos “Entidades fortes e lojas quebradas. Até quando?”, “Gemba: Obtendo o máximo de resultados com o mínimo de custos” e “Gestão do Conhecimento para farmácias”. Publicadas na Revista ABC Farma as matérias foram objeto de muitas manifestações e se tornaram uma referência para muitas empresas que se diziam preocupadas com a saúde do processo de cooperação de farmácias.
Com a visível verticalização no varejo provocada pela crescente expansão das grandes redes aumentou ainda mais o apetite das entidades por novas adesões. Ampliar a quantidade de lojas e ficar mais atrativo diante dos fornecedores passou a ser a pedra de toque no processo de ampliação das bandeiras da cooperação. Com raríssimas exceções, a qualidade cedeu lugar à quantidade, o que compromete em muito o espírito de cooperação e fidelização tão necessários para a saúde e a continuidade do sistema.
Há mais de dez anos criamos a figura que exaltava a cooperação e a fidelização como ingredientes indispensáveis. A ideia por trás da figura dos peixes pequenos que se agrupam era preservar a unidade, o espírito de corpo, honrando os compromissos com os fornecedores, aumentando o entusiasmos tanto dos distribuidores quanto dos laboratórios.
A julgar pela distância e cautela dos fornecedores nos últimos tempos, cooperação e fidelização são ingredientes que estão se tornando cada vez mais raros. Está diminuindo a olhos vistos o volume de instituições que gozam de respeito e consideração por parte dos fornecedores que se esforçam para honrar os compromissos firmados nas mesas de negociações.
Mas, infelizmente, a falta de uma cultura de cooperação e fidelização não é a única notícia preocupante. As instituições se fortaleceram mas as lojas estão cada vez mais carentes, fragilizadas e pouco competitivas, tornando ainda mais fácil o processo de verticalização em curso. No decorrer do tempo, não é possível continuar afirmando que as instituições continuarão fortes, se são compostas por lojas fracas. Veja a seguir o maior de todos os erros.
A INTELIGÊNCIA DOS CARDUMES
É possível que você já tenha assistido alguma matéria especial na tv ou no cinema que trata da inteligência coletiva que rege a dinâmica dos cardumes. Esta inteligência tem sido objeto de estudo ao redor do mundo e se manifesta também nas formigas, nos pássaros, abelhas, fazendo com o todo coletivo, integrado e inteligente, passe a responder como se fosse um único organismo, que age e reage aos estímulos do ambiente, reconhece o perigo do predador, muda de direção, de sentido como um autentico alvo móvel, difícil de ser acertado.
Sem esta inteligência o cardume se tornaria uma presa fácil, como se não reconhecesse no ambiente, nenhum mecanismo de alerta que traduza o perigo da presença de um predador. Sem estes mecanismos o cardume faria a gentileza de se reunir, tornando-se um alvo fixo, uma presa fácil.
O que intriga os especialistas sobre o comportamento por trás dessa inteligência coletiva é que seus indivíduos respondem surpreendentemente à estímulos, tanto na forma coletiva quanto na individualizada. Problemas complexos relacionados à defesa são resolvidos coletivamente, à partir de ações individuais, com a dinâmica de um corpo sólido, enquanto que o conhecimento local, de cada indivíduo também lhe permite atuar de forma independente. Ele reponde ao coletivo mas também tem vida própria, consegue interpretar o seu ambiente, é capaz de identifica as ameaças e as oportunidades. Neste ambiente, a inteligência tem tudo a ver com adaptação, de acordo com as circunstâncias, o significa diferença entre a vida e a morte.
Tanto nos cardumes quanto nos pássaros esta inteligência está incorporada ao DNA, relacionada a um processo milenar de adaptação e evolução das espécies e nenhum vestígio que lembre de longe alguma coisa relacionada a hierarquia. Se considerarmos a competição acirrada que estamos vivendo no Século XXI, e a plena revolução das TIC’s (Tecnologia, Informação e Comunicação) é inadmissível que nossas entidades subestimem a importância do conhecimento como base para a competição e prosperidade em cada Unidade de Negócio – Farmácia.
É muito caro o preço pago pelo descaso com o conhecimento. Muitos proprietários estão pagando com a própria empresa, muitas das vezes endividados e ainda comprometendo as conquistas passadas, auferidas nos tempos das ‘vacas gordas’. A falta de conhecimento nestes novos tempos pode sim comprometer o patrimônio, promover surpresas inimagináveis que podem ultrapassar os limites da própria farmácia. Muitos destes proprietários foram ‘tragados’ pelo apetite voraz de entidades que ainda se esforçam para crescer a qualquer custo, só vendem facilidades, muito bônus e nenhum ônus. Venderam a ilusão de que a melhoria nas compras funcionaria como uma ‘panaceia’, inquestionável. É na realidade um grande equivoco, além de não alertar o estabelecimento para a necessidade da gestão profissional, das características do empreendedorismo tão vitais para a farmácia nestes tempos de competição acirrada.
Leia a série completa:
Confira os demais textos que fazem parte da série sobre associativismo publicada na Revista ABC Farma:
Entidades fortes e lojas quebradas. Até quando?
Gemba: Obtendo o máximo de resultados com o mínimo de custos
Gestão do Conhecimento para farmácias